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IINVESTIGAÇÃO E PROJETO COREOGRÁFICO

INVESTIGAÇÃO COREOGRÁFICA 

A investigação coreográfica do Arquivo Atlântico propõe uma abordagem afetiva e sensorial às diferentes matérias que compõem a pesquisa e se articula em torno de diferentes estratégias de experimentação e composição que, a partir do encontro e confronto com documentos históricos, textos, imagens, relatos e sonoridades, procura questionar, desconstruir e reconfigurar  narrativas e visualidades que caracterizam imaginários políticos e sociais de matriz colonial.

 

Ao longo do processo de investigação, trabalhamos em torno a um conjunto de materiais entre o performativo, o sonoro e o visual, onde tanto a dimensão estética como a política respondem a uma busca por outras lógicas criativas e compositivas. Nosso interesse tem sido em investigar, especialmente, a dimensão poética dos arquivos, e explorar como os mecanismos situados na prática coreográfica podem servir para desdobrar e reconfigurar os múltiplos sentidos que cada material pode conter. 

 

O projeto coreográfico foi desenvolvido ao longo de 2022 em residências no Espaço do Tempo,na Mala Voadora,, e no Cartaxo, e resultou no espetáculo Abate, que estreou no dia 29 de Outubro, na Galeria José Tagarro, como parte do programa regular da Materiais Diversos.

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A B A T E

Abate é um exercício coreográfico que explora os vestígios sonoros e visuais da violência colonial, um movimento de inclinação, de escuta e atenção às práticas de dominação e resistência que compõem o legado desse período. Partindo das explorações imagéticas, sonoras e textuais desenvolvidas no contexto do projeto Arquivo Atlântico, Abate é um objeto híbrido, que convoca tanto a matéria arquivística resultante da nossa investigação como os afetos que emergiram ao longo da nossa trajetória. Paisagens artificiais, imagens entrecortadas, a sonoridade dos rádios e um conjunto heterogêneo de vozes e gestos compõem um espaço instável e em constante transformação, uma zona de rupturas, ressonâncias, interferências e resistências que convoca um passado coletivo para, a partir dele, experimentar desvios poéticos, movimentos especulativos, transfigurações e exercícios de reinvenção.

 

A palavra abate evoca o conjunto de destruições e apagamentos que configuram a história colonial, as incessantes tentativas de subtrair a vitalidade e a força de tudo aquilo que escapa à uma ideia cristalizada e absoluta de mundo, mas também o desejo iconoclasta de derrubar o arquivo enquanto instituição emudecida e retrato encapsulado de um passado absurdo e violento que insiste em se reerguer. 

 

O acervo a que recorremos para a construção de Abate é formado por um conjunto híbrido de materiais, que inclui tanto peças de arquivos históricos, como também obras de domínio público e composições originais produzidas no contexto do projeto. A composição sonora para os rádios reúne um conjunto de discursos chave para a compreensão dos processos de independência africanos e do movimento internacional pan africanista e anti-imperialista, assim como registos fonográficos e fragmentos de emissões de rádio brasileiras. A cenografia foi construída a partir de uma reprodução das aquarelas originais de Carlo Ferrario para a primeira montagem de Il Guarany, ópera de Carlos Gomes,  que estreou em 1870 no Alla Scala de Milão e marca um dos momentos críticos de fabricação da identidade brasileira no contexto do segundo império. Os textos são, sobretudo, materiais originais escritos por nós ao longo do desenvolvimento do projeto. 

ABATE

GALERIA JOSÉ TAGARRO 2022
@ SUSANA VALADAS 

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