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INSTALAÇÃO

INSTALAÇÃO ARQUIVO ATLÂNTICO

AQUIPELAGO CENTRO DE ARTES CONTEMPORÂNEAS, 2022. @HUGO MOREIRA

A instalação do projeto Arquivo Atlântico foi desenvolvida em colaboração com o Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas, como resultado da nossa residência nos Açores. Durante a nossa estadia, propusemo-nos a observar não só a formação política e económica dos Açores como também a sua relação com outros territórios que integraram o projeto colonial português. Interessamo-nos especialmente pelos processos de transformação da paisagem do arquipélago, que refletem um entendimento das ilhas enquanto espaços de laboratório e produção a serviço de propósitos económicos, geopolíticos e sociais de matriz colonial.

 

A instalação apresenta duas dimensões, uma dimensão sonora e uma dimensão visual, que neste contexto opera a partir de uma composição de materiais diversos que vão de arquivos históricos a materiais originais produzidos no contexto do projecto. A instalação ganha corpo a partir de um conjunto de composições e pequenas peças áudio distribuídas no espaço através de um sistema de emissão e  recepção de rádio fm. O processo de distribuição e de activação desses fragmentos segue um modelo de carácter aleatório em que cada fragmento de arquivo é encontrado vez a vez, produzindo um espaço suspenso numa cadência de combinações ímpares, interrompido pontualmente por uma massa sonora exterior que se sobrepõe e invade o lugar de intimidade povoada pelos próprios rádios. O material sonoro que faz parte da instalação tem por base uma série de entrevistas que temos vindo a realizar ao longo do último ano de investigação e que propõe um olhar crítico sobre a memória do período colonial. Nesse conjunto, estão conversas focadas nos contextos brasileiro, cabo-verdiano, e açoriano, articulados com um conjunto de materiais de arquivo e acervos sonoros dos três países, e com referências também aos contextos angolano e de S. Tomé. 

 

Como parte da instalação faz também parte um objecto de vídeo que articula três grupos de materiais. O primeiro grupo reúne um conjunto de fotografias do Coronel Afonso Chaves, figura importante na história da fotografia açoriana, que registram tanto a paisagem rural das ilhas assim como os jardins formados no fim do século XIX e princípios do século XX. No contraste entre ambos grupos de imagens torna-se  evidente a lógica por detrás de tais processos: por um lado, uma paisagem natural que precisa de ser intervinda, modificada, e no seu extremo, completamente transformada para se tornar um espaço de produção agrícola e de extração de recursos, e por outro, o ideal exótico que marca o final do século XIX. A ‘natureza’ é, assim, primeiro destruída para depois ser reinventada num espaço privado, transformada em objeto estético e contemplativo na forma de um jardim murado, completamente dissociada da vida no seu sentido mais amplo. No segundo vídeo, temos um filme feito pelo aviador e explorador alemão Gunther Pluschow, em Santa Catarina, sul do Brasil, no qual ele registra a formação de uma colônia alemã no norte do estado. O filme retrata, de maneira quase didática, a prática do projeto colonial. Nele é possível ver a chegada das famílias, o corte das árvores, e a construção de casas e formação de novas vilas. O terceiro grupo de imagens faz referência ao colonato de Cela, no sul de Angola, onde as coincidências com outros territórios dominados por Portugal se tornam mais do que evidentes. Para além do forte enfoque na pecuária, vemos plantações de ananás e de bananas, numa paisagem que facilmente evoca as culturas implementadas também em Cabo Verde, no Brasil e nos Açores. 

Entre os materiais sonoros e visuais, o que propomos sobretudo neste exercício instalativo é a observação de como o projeto colonial consiste na imposição de um sistema pautado pelos mesmos parâmetros em diferentes territórios, um sistema dependente da exploração do solo e da força de trabalho das comunidades locais, projetado desde um centro de poder (a metrópole) que no seu extremo colhe todos os seus benefícios.

A instalação ficou aberta ao público entre 17 de Fevereiro e 1 março de 2022.

FICHA TÉCNICA

 

Conceito e realização Beatriz Cantinho, Nuno Torres e Túlio Rosa 

Produção Arquipélago Centro de Artes Contemporâneas 

 

Acervo 

Entrevistas  Adriano Mota, Glicéria Tupinambá, João Paulo Constância, Woie Kriri Sobrinho Patte, Ana Luiza Fortes.

Acervo Sonoro 

Cantos de trabalho: Cana de Açucar.  Leon Hirszman (1975)

Cantos de trabalho: Cacau. Leon Hirszman (1970)

Granzin di Terra: Cola Boi. José dos Santos Delgado (1998))

Cantigas de Trabalho,.Oswaldo Osório (1980)

Brazil: The Rude Awakening. CRM Films (1960)

Criação de gado – Brasil a caminho de ser o maior pecuarista do mundo. Agência Nacional Brasileira (1969)

A sombra de um delirio verde. An Baccaert, Cristiano Navarro e Nicola Mu (2011)

A cidade de Campos e as usinas de Açucar.  Agencia Nacional Brasileira (1951)

O gado bovino foi uma invasão biológica curto. Entrevista José Augusto Pádua (2017) 

Discurso de Ano Novo, Amílcar Cabral para a Rádio Libertação (1973)

Acervo Visual 

Fotografias do Coronel Afonso Chaves (1901 – 1910)
Coleção Museu Carlos Machado

Santa Catarina em 1928 – Colonias Alemãs – Índios Xokleng (botocutos)
Filme de Gunther Pluschow (1927/1928)

Registros da pecuaria e agricultura no colonato de Cela, Angola (1961)
Não atribuído. The Internet Archive

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